Absortos nas ondas do mar esquecemos o seu movimento incessante. De maneira inconsciente, e bem arcaica, desde sempre se procurou esquecer a mudança, o correr das coisas, o devir.
Ser Moderno implicou a descoberta da imensa fragilidade do “parar”, mas também a sua necessidade. Um jogo de stop and go. Mas o humano parte da aceitação da mudança, do escorrer da Physis e de tudo o que vai nela. Um dos pensadores do Ocidente, Heráclito afirmou há milénios que “tudo flui” (Panta rei), e que “não podemos banhar duas vezes no mesmo Rio”. Eis um começo de resposta, pois o “rio” é uma palavra onde pára o incessante fluir das águas, tal como “fluir” é uma palavra que não flui. É pela palavra que começamos a parar as coisas, que nos aproximamos de algo que se escapa, e ao mesmo tempo passa pela palavra. Um pouco como a fotografia, que surge como uma mudança no seio do devir geral, o acrescenta e ao mesmo tempo o altera, introduzindo uma demora.
Ser Moderno implicou a descoberta da imensa fragilidade do “parar”
É certo que em alguns momentos de felicidade, de êxtase, paramos repentinamente - sobre uma paisagem, um olhar, uma planície - e que essa paragem nos continua a alimentar, como qualquer coisa que interrompe, que resiste, uma rocha de felicidade no mar magno. Experiência intensa quando sucede, e nos acha impreparados, aparecendo subitamente. É possível fazer o mesmo conscientemente quando se funda algo de essencial. Subitamente uma visão torna-se clara, um sonho apodera-se da alma, e real e irreal confundem-se. É preciso subir para ver melhor, mas já se tinha subido inadvertidamente. Uma decisão de começar, o milagre do início e do começar, de que falava Hannah Arendt, que exige materializar-se, que impõe uma forma à vida e à matéria. Uma fundação teve lugar. Foi assim na Aveleda há 150 anos. Algo interrompe o movimento, em seu redor tudo reflui e recircula.
A única forma de ser fiel à ideia que secretamente dirigiu a fundação é o cuidar rigoroso, é continuar o trabalho, é saber mudar para não ser destruído pelo movimento das coisas. Sermos fiéis à casa e ao nome implica uma minuciosa ocupação, cada uma fazendo a sua parte. E, às vezes, implica parar para festejar em memória.